quinta-feira, 22 de maio de 2014

Bon Voyage à St.Marie!


Vila Belga, patrimônio histórico. Foto: Secretaria do Turismo de Santa Maria/RS

As casinhas coloridas são muitas. Bem preservadas, elas dão um tom alegre ao cotidiano comum da cidade. Construída entre os anos de 1901 e 1903, a vila foi projetada pelo engenheiro Gustave Wauthier para ser a nova moradia dos funcionários da companhia belga "Compagnie Auxiliare des Chamins de Fer au Brésil". Como? Você leu "Brésil"? Sim! Não estou em algum vilarejo da América Central, muito menos a foto é de alguma cidadezinha europeia. Toda essa riqueza arquitetônica mora aqui ao lado, precisamente na cidade de Santa Maria, onde essa "Compagnie" adquiriu a concessão e finalizou a construção da Estrada de Ferro Porto Alegre-Uruguaiana, um projeto de articulação do território e das fronteiras do Estado do Rio Grande do Sul com a Argentina, Paraguai e Uruguai. Agora tente não se revoltar, caro leitor, ao saber que você poderia estar, sim, viajando todo o território do falido Mercosul, apenas de trem!


Encantada ao passear por essas ruazinhas, de imediato pensei em colocar no primeiro bloco do #Wanderlust #7 dessa quinta-feira, um guitarrista de jazz belga que conheci por causa do toca-discos bacana do meu amigo Márcio Grings, um santa-mariense da gema, que me levou para ver essa cidade de perto, berço da On The Rocks. Ouvi pela primeira vez, Django Reinhardt, um sujeito de alma cigana e que influenciou posteriormente músicos, criando o estilo gypsy jazz, um dos meus favoritos:

Django Reinhardt - The Best of Django Reinhardt




Entre um passeio a Silveira Martins, um pulo no balneário Novo Pinhal - uma bela surpresa, pois não imaginava que a cidade e seus arredores tivessem vários locais para banho, em cima das montanhas! - recordei da minha infância ao lembrar do gosto do meu pai por estar no meio do mato, acampando, e principalmente, da preferência dele pelos vinis de western do meu avô. Sendo assim, ouvi um dos discos mais bacanas do gênero, que mudou minha opinião a respeito. Pat Garrett & Billy The Kid, trilha sonora criada por Bob Dylan, para o filme de mesmo nome, lançado em 1973. Se eu já cantava desde a minha infância essa música na voz do Axl Rose, a original, pelo próprio Dylan, me arrebata:

Bob Dylan - Knockin' on Heaven's door




As audições de grandes vinis eram pausados por leituras de trechos de um livro, que há tempos eu queria muito já ter devorado. Todo bom mochileiro, aquele com espírito desbravador de verdade, tem esta obra, mesmo que sem querer, como uma de suas favoritas: Na Natureza Selvagem, de Jon Krakauer.




Já em em casa, no sítio em Gravataí, eu continuava a leitura, mas minha trilha sonora começava a fazer as malas e saía dos Estados Unidos rumo à Cuba, um dos lugares que certamente estão no meus próximos roteiros de viagem. Ouvia a parceria de Omara Portuondo, cantora de bolero e dançarina cubana e minha diva brasileira Maria Bethânia, que juntas em 2008, gravaram um disco lindo e saíram em turnê:


Omara Portuondo e Maria Bethânia - Tal Vez



E já que falamos de divas, peguei meu mapa sonoro e para continuar a leitura, eu aterrisei no México. Poucos artistas me comovem tanto. E uma dessas estrelas da vida se chama Chavela Vargas, diva dos anos 50 e amiga íntima de Frida Kahlo.



A expressividade dessa mulher, intensidade e modo choroso de cantar, sempre fazem com que eu termine a audição da faixa com lágrimas rolando. Depois de ter problemas com álcool, Chavela volta a cena musical em 1992, por intermédio do meu cineasta favorito, o espanhol Pedro Almodóvar. Ela faleceu em 2012.

Chavella Vargas - En el ultimo trago



Aí, vou até a casa de um amigo querido e ele diz: "Amanhã embarco! Vou à Paraty, para mais um Bourbon Festival"! Tudo o que eu queria era curtir aquela cidadezinha histórica, tendo como trilha sonora das minhas andanças, o jazz que ecoará por todas suas esquinas. Fotógrafo por hobby, Hamilton Fialho mandará retratos na próxima semana para o site da On The Rocks e contará como foi a aventura de mais uma reunião de jazzistas do mundo! O mais divertido sempre são os nomes desconhecidos e a maneira surpreendente que esses artistas "anônimos" te pegam de modo despretensioso! Se há viagem mais saborosa, e ao mesmo tempo, difícil de traçar um roteiro linear e racional, não tenha dúvidas, caro leitor: é a viagem musical, seja ela em Santa Maria, New Orleans, Bélgica, Cuba ou Paraty!

Dois dos artistas incríveis, que estarão na edição do Bourbon Festival, que começa nesta sexta-feira e vai até domingo, em Paraty. Salve para Hermeto Pascoal, nessa canção com a eternamente estupenda, Elis Regina!

Hermeto Pascoal e Elis Regina - Asa Branca



Preservation Jazz Band - Tailgate Ramble


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