quinta-feira, 20 de junho de 2013

O grito de todos!




Enquanto cidadãos se mobilizavam para tomar as ruas do Brasil, nesta quinta-feira, em Munique, um brasileiro foi a estrela da noite, no teatro mais antigo e tradicional da cidade. O Cuvilliès chegou a sua lotação máxima para ver um senhor de cabelos brancos, velhinho e muito simples, subir até o púlpito colocado naquele palco majestoso. Leonardo Boff foi aplaudido de pela maioria alemã de expectadores, que conhece sua trajetória como teólogo, doutor em Política, professor universitário. Em alemão, ele foi direto ao ponto e por uma hora, fez um link interessantíssimo sobre o tema "Grita o povo, Gritam os Pobres, Grita a Terra: um Desafio para uma Mudança no Mundo".


Infelizmente, não há como reproduzir a palestra na íntegra. Sendo assim, ao final, pedi à ele que dissesse algumas palavras sobre as manifestações que vem ocorrendo no Brasil: " O Governo (PT) vai ter que escutar o povo".



terça-feira, 18 de junho de 2013

Brasil, mostra a tua cara!



Lembro como se fosse hoje: aos 9 anos, eu assitia pela TV, uma multidão de jovens tomar as ruas do país, com cartazes, com "Caras Pintadas" em verde-amarelo,  pedindo uma coisa que eu não fazia ideia, até minha mãe, professora de História, explicar: impeachment! Fernando Collor saia do poder. Agora, aos 30 anos, jamais havia participado e visto uma manifestação tão grande no meu país, sendo impossível não fazer uso da expressão: O Brasil, o Gigante acordou!




Há dez anos, vim morar na Alemanha, não somente para aprender um idioma e uma nova cultura, mas para ter chances de melhores oportunidades de vida, não só aqui, mas posteriormente, no meu país. E esse é o sonho da maioria dos brasileiros, que deixa a sua terra: voltar um dia, ainda que velhinho, para viver com dignidade. Aqui em Munique, vários alemães, ao conversarmos, indagam o mesmo: " Não entendo como o Brasil com toda essa abundância de florestas, rios, natureza, deixa seu povo passar fome e conviver com esgoto a céu aberto em favelas, sem educação"!



Pelo simples motivo de estarmos trabalhando, lutando fora do país, mas com os corações e esperanças nele, ontem houve a manifestação DEMOCRACIA NAO TEM FRONTEIRAS, organizada por estudantes e a comunidade brasileira de Munique, em solidariedade ao que vem ocorrendo no Brasil. Mais de 300 pessoas estiveram reunidas na Marienplatz, principal praça no coração da cidade. Leram manifestos em português e alemão, levaram cartazes coloridos, camisetas e com rostos pintados, cantamos o hino e canções de protesto, de alegria, não acreditando no que acontecia. Foi de emocionar!



Porque compartilhamos do mesmo sonho, da mesma, agora, realidade, abaixo o  depoimento deste jovem brasileiro. Cheio de esperanças, ele veio à Alemanha para uma especialização, com bolsa de estudos. Sempre estudou em escola pública e não tinha dinheiro para fazer a faculdade. Ele foi um dos organizadores do evento, com o qual participei e colaborei.

Hoje os vídeos não terão a tradicional abertura. Vamos direto ao ponto, que foi lindo:

Geovane Rodrigues, 20, anos, estudante do programa Ciências Sem Fronteiras.




Alguns dos belos momentos da manifestação em Munique:



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Os bastidores de uma Copa




Gravando o vídeo, que não deu certo, na estação de trem da Allianz Arena

Fui aquela menina da turma que nunca jogava futebol nas aulas de Educação Física e só acompanhava mesmo, as partidas da Seleção Brasileira, e em Copa do Mundo. Por isso, tenho recordações lindas do mundial de 1994, quando matava aula na 6ª série, para ficar em casa com as cobertas até a ponta do nariz - era inverno - torcendo pela dupla Bebeto e Romário! Eu e meu irmão cruzávamos tanto nossos dedos a cada passe na cara do gol, que uma vez tive câimbra. Precisávamos dar sorte ao Brasil! 

Há um mês venho lembrando dessa atmosfera de Copa, por causa do convite do supercompetente Fernando Muniz, ex-colega de Grupo RBS e produtor do programa TVCOM Tudo +, que me propôs um desafio: fazer uma matéria sobre o legado da Copa de 2006 em Munique, e como a cidade se preparou para ser a anfitriã da festa. Imensamente feliz, senti um frio na barriga. Seria minha primeira matéria para TV com conteúdos e entrevistados no idioma que estudo há três meses. "Se eu não entender, apelarei para o inglês", pensava. "Mas aí, não será a mesma coisa". Era um desafio pessoal. 

Na assessoria de imprensa da prefeitura da cidade, eu consegui contatos e iniciava ali nossas trocas de e-mails e telefonemas. Os entrevistados da matéria, Henriette Wägerle e Wolfgang Uhrig, são  pessoas extremamente inteligentes, de uma generosidade imensa e com grande conhecimento de causa - ela, além do planejamento da Copa de 2006, preparou grupos de trabalho para 2010 na África e agora no Brasil, e ele, há mais de 35 anos realiza coberturas de Jogos Olímpicos e Copas do Mundo, para a Revista Kicker, uma das publicações de futebol ais importantes do país.




Wolfgang Uhrig e o livro da Copa, seu orgulho.

Todos sabem que o povo alemão é extremamente organizado, correto, educado e planeja cada mínima ação. Tal comportamento, com seus devidos prós e contras, pode ser muito positivo na execução de um evento aos olhos do mundo. Uniram esforços ($$$) todas as esferas públicas e empresas privadas, na realização de melhorias importantes e que beneficiam nos dias de hoje, moradores e visitantes: mobilidade urbana, infraestrutura e estádio. Mas a cidade queria mais do que mostrar tecnologia, eficiência, modernidade: provar que também são receptivos, que fazem uma boa festa e que estão de braços abertos para novas pessoas! Ao iniciar minha pesquisa assistindo a primeira de muitas vezes o documentário Deutschland - Ein Sommermärchen (algo como "Alemanha - Um Conto de Fadas de Verão") compreendi o motivo da mesma resposta  de muitos alemães, ao perguntar como foi a Copa em Munique: " Especial, extraordinária, inesquecível"! Descobri que era além do dinheiro, sediar alguns jogos importantes e grandes construções. 

O documentário emociona ao expor os bastidores da Seleção Alemã naquele mundial, a preparação, o trabalho em equipe, o coleguismo, a família, um grande treinador e um time que quase chegou a final de um campeonato. Foi a derrota mais vitoriosa que vi, porque ela devolveu ao povo a palavra "orgulho"! A Alemanha não costumava balançar sua bandeira ao torcer, como o brasileiro faz em qualquer jogo esportivo, por vergonha e medo de que o gesto fosse nacionalista demais, e por consequência lembrasse a 2ª Guerra. No entanto, juntos, policiais, militares, moradores e visitantes tomaram as ruas do país, para recepcionar os jogadores e acenaram um verdadeiro mar de bandeiras e sorrisos, orgulhosos daquele feito, de ultrapassar barreiras e de estar simplesmente juntos e felizes por aquele momento. 



A minha "Arena Tour", numa tarde chuvosa, pelo estádio Allianz Arena


No final das contas, depois desse trabalho, penso que o Brasil executará os projetos e concluirá suas obras de infraestrutura necessários, ainda que com percalços ou prazos estourando. Mas ser sede de uma Copa do Mundo é mais. Assim como aconteceu em Munique, Stuttgart, Berlim, em toda a Alemanha, o mundial é uma bela tentativa de resgatar e renovar a fé que devemos ter em nós mesmos, enquanto cidadãos. Uma boa programação cultural gratuita, paralela aos jogos da Copa, por exemplo, não depende somente de incentivos, mas de boa vontade e planejamento. Uma Copa do Mundo é uma imensa oportunidade de mostrar enorme potencial econômico e turístico de uma cidade. Munique continua a receber chineses e australianos todos os anos, e aos montes!

Por que não mostrar e viver, juntos, a Redenção, os parques públicos, o Bom Fim, a Cidade Baixa, o Centro Histórico, Ipanema, Lami, a nossa Universidade Federal, os nosso bares, museus, galerias, nossos músicos gaúchos, o Theatro São Pedro, ao invés de achar que a Copa será restrita, para poucos, com ponto facultativo em órgãos públicos? Por que não espalhar telões para transmissão de jogos em bairros carentes, região metropolitana, o que significa inclusão e não roubo ou depredação? Por que não oferecer passagens de ônibus e trem mais baratos em dias de jogos, ou ao comprar o ingresso para jogo, ter o direito de ir e vir do estádio utilizando qualquer meio de transporte público? Por que não incentivar o uso da bicicleta, educando ciclistas e motoristas, efetivamente? Colocar jovens voluntários no maior número de pontos da cidade para informar turistas e moradores! Tudo isso seria um sonho para Porto Alegre, para o Brasil? Possível quando se coloca educação em primeiro lugar. E foi exatamente assim, investindo no seus potenciais, no seu bairrismo, na educação de seu povo, que Munique teve sucesso. Precisa-se muito dinheiro para isso?


Perdeu a matéria no TVCOM TUDO+? Assista:

domingo, 9 de junho de 2013

Uma pedalada noturna


Foram quase duas semanas de chuva, deixando inclusive várias cidades da Baviera debaixo d'água. Felizmente, desde a última quinta-feira, o clima deu trégua e o sábado foi de céu azul e de um sol tão lindo, que lembrou o Brasil. Ao cair da tarde, a temperatura agradável e o biergarten eram a combinação perfeita. Mas antes, realizei algo que há muito tempo eu gostaria: um passeio noturno de bicicleta!


A festa na concentração dos ciclistas na Odeonplatz. Foto: Katy Spichal/Munchen.de

 4ªMünchener Radlnacht (4º Passeio Ciclístico Noturno de Munique) veio em ótima hora! De todas as cores, tamanhos, formas criativas, as mais diversas bicicletas e seus donos foram chegando ao Odeonplatz, a partir das 17h, para participar de uma programação pensada pela prefeitura e organizações, com música ao vivo, estandes com informações e de graça. O foco era apenas um: incentivar o turista e morador a desbravar e a viver a cidade, utilizando a bicicleta. Materiais gratuitos com o mapa das ciclovias de Munique e panfletos informativos - de como por exemplo, apoiar o trabalhador, que deseja ir de bicicleta para a empresa - foram distribuídos e rapidamente, esgotados.

  Foto: Katy Spichal/Munchen.de

A cada minuto, meus olhos se enchiam de espanto e alegria: cerca de cinco mil ciclistas se reuniram para fazer o trajeto de 12 quilômetros, pelas principais ruas! Eram de todas as idades! Grupos formados por famílias, amigos, vizinhos! Lembrei da coragem e força dos jovens porto-alegrenses do grupo Massa Crítica e o quanto seus sorrisos se iluminariam como o meu, ao ver a bike inserida no cotidiano desta forma e com tamanho apoio por parte de organizações e autoridades, e tamanha educação e respeito, por parte do povo.

  Foto: Katy Spichal/Munchen.de


Ganhei minha última bicicleta aos 12 anos. Com tantas mudanças na vida (em diversos aspectos), ela foi ficando velhinha e novas prioridades surgindo. Ela ficou de lado, mas jamais esquecida nas minhas lembranças. Por isso, sempre há tempo de retomar coisas boas, as trazendo de volta para que o cotidiano se torne mais bonito. Após ter comprado uma magrelinha alemã usada, dos anos 70 e de um macedônio, esse foi o primeiro passeio e história que serão contados!

Pedale comigo e ria à vontade! Só o vento no rosto provocado por uma bike é capaz disso: