Gravando o vídeo, que não deu certo, na estação de trem da Allianz Arena
Há um mês venho lembrando dessa atmosfera de Copa, por causa do convite do supercompetente Fernando Muniz, ex-colega de Grupo RBS e produtor do programa TVCOM Tudo +, que me propôs um desafio: fazer uma matéria sobre o legado da Copa de 2006 em Munique, e como a cidade se preparou para ser a anfitriã da festa. Imensamente feliz, senti um frio na barriga. Seria minha primeira matéria para TV com conteúdos e entrevistados no idioma que estudo há três meses. "Se eu não entender, apelarei para o inglês", pensava. "Mas aí, não será a mesma coisa". Era um desafio pessoal.
Na assessoria de imprensa da prefeitura da cidade, eu consegui contatos e iniciava ali nossas trocas de e-mails e telefonemas. Os entrevistados da matéria, Henriette Wägerle e Wolfgang Uhrig, são pessoas extremamente inteligentes, de uma generosidade imensa e com grande conhecimento de causa - ela, além do planejamento da Copa de 2006, preparou grupos de trabalho para 2010 na África e agora no Brasil, e ele, há mais de 35 anos realiza coberturas de Jogos Olímpicos e Copas do Mundo, para a Revista Kicker, uma das publicações de futebol ais importantes do país.
Wolfgang Uhrig e o livro da Copa, seu orgulho.
O documentário emociona ao expor os bastidores da Seleção Alemã naquele mundial, a preparação, o trabalho em equipe, o coleguismo, a família, um grande treinador e um time que quase chegou a final de um campeonato. Foi a derrota mais vitoriosa que vi, porque ela devolveu ao povo a palavra "orgulho"! A Alemanha não costumava balançar sua bandeira ao torcer, como o brasileiro faz em qualquer jogo esportivo, por vergonha e medo de que o gesto fosse nacionalista demais, e por consequência lembrasse a 2ª Guerra. No entanto, juntos, policiais, militares, moradores e visitantes tomaram as ruas do país, para recepcionar os jogadores e acenaram um verdadeiro mar de bandeiras e sorrisos, orgulhosos daquele feito, de ultrapassar barreiras e de estar simplesmente juntos e felizes por aquele momento.
A minha "Arena Tour", numa tarde chuvosa, pelo estádio Allianz Arena
No final das contas, depois desse trabalho, penso que o Brasil executará os projetos e concluirá suas obras de infraestrutura necessários, ainda que com percalços ou prazos estourando. Mas ser sede de uma Copa do Mundo é mais. Assim como aconteceu em Munique, Stuttgart, Berlim, em toda a Alemanha, o mundial é uma bela tentativa de resgatar e renovar a fé que devemos ter em nós mesmos, enquanto cidadãos. Uma boa programação cultural gratuita, paralela aos jogos da Copa, por exemplo, não depende somente de incentivos, mas de boa vontade e planejamento. Uma Copa do Mundo é uma imensa oportunidade de mostrar enorme potencial econômico e turístico de uma cidade. Munique continua a receber chineses e australianos todos os anos, e aos montes!
Por que não mostrar e viver, juntos, a Redenção, os parques públicos, o Bom Fim, a Cidade Baixa, o Centro Histórico, Ipanema, Lami, a nossa Universidade Federal, os nosso bares, museus, galerias, nossos músicos gaúchos, o Theatro São Pedro, ao invés de achar que a Copa será restrita, para poucos, com ponto facultativo em órgãos públicos? Por que não espalhar telões para transmissão de jogos em bairros carentes, região metropolitana, o que significa inclusão e não roubo ou depredação? Por que não oferecer passagens de ônibus e trem mais baratos em dias de jogos, ou ao comprar o ingresso para jogo, ter o direito de ir e vir do estádio utilizando qualquer meio de transporte público? Por que não incentivar o uso da bicicleta, educando ciclistas e motoristas, efetivamente? Colocar jovens voluntários no maior número de pontos da cidade para informar turistas e moradores! Tudo isso seria um sonho para Porto Alegre, para o Brasil? Possível quando se coloca educação em primeiro lugar. E foi exatamente assim, investindo no seus potenciais, no seu bairrismo, na educação de seu povo, que Munique teve sucesso. Precisa-se muito dinheiro para isso?
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