quinta-feira, 13 de junho de 2013

Os bastidores de uma Copa




Gravando o vídeo, que não deu certo, na estação de trem da Allianz Arena

Fui aquela menina da turma que nunca jogava futebol nas aulas de Educação Física e só acompanhava mesmo, as partidas da Seleção Brasileira, e em Copa do Mundo. Por isso, tenho recordações lindas do mundial de 1994, quando matava aula na 6ª série, para ficar em casa com as cobertas até a ponta do nariz - era inverno - torcendo pela dupla Bebeto e Romário! Eu e meu irmão cruzávamos tanto nossos dedos a cada passe na cara do gol, que uma vez tive câimbra. Precisávamos dar sorte ao Brasil! 

Há um mês venho lembrando dessa atmosfera de Copa, por causa do convite do supercompetente Fernando Muniz, ex-colega de Grupo RBS e produtor do programa TVCOM Tudo +, que me propôs um desafio: fazer uma matéria sobre o legado da Copa de 2006 em Munique, e como a cidade se preparou para ser a anfitriã da festa. Imensamente feliz, senti um frio na barriga. Seria minha primeira matéria para TV com conteúdos e entrevistados no idioma que estudo há três meses. "Se eu não entender, apelarei para o inglês", pensava. "Mas aí, não será a mesma coisa". Era um desafio pessoal. 

Na assessoria de imprensa da prefeitura da cidade, eu consegui contatos e iniciava ali nossas trocas de e-mails e telefonemas. Os entrevistados da matéria, Henriette Wägerle e Wolfgang Uhrig, são  pessoas extremamente inteligentes, de uma generosidade imensa e com grande conhecimento de causa - ela, além do planejamento da Copa de 2006, preparou grupos de trabalho para 2010 na África e agora no Brasil, e ele, há mais de 35 anos realiza coberturas de Jogos Olímpicos e Copas do Mundo, para a Revista Kicker, uma das publicações de futebol ais importantes do país.




Wolfgang Uhrig e o livro da Copa, seu orgulho.

Todos sabem que o povo alemão é extremamente organizado, correto, educado e planeja cada mínima ação. Tal comportamento, com seus devidos prós e contras, pode ser muito positivo na execução de um evento aos olhos do mundo. Uniram esforços ($$$) todas as esferas públicas e empresas privadas, na realização de melhorias importantes e que beneficiam nos dias de hoje, moradores e visitantes: mobilidade urbana, infraestrutura e estádio. Mas a cidade queria mais do que mostrar tecnologia, eficiência, modernidade: provar que também são receptivos, que fazem uma boa festa e que estão de braços abertos para novas pessoas! Ao iniciar minha pesquisa assistindo a primeira de muitas vezes o documentário Deutschland - Ein Sommermärchen (algo como "Alemanha - Um Conto de Fadas de Verão") compreendi o motivo da mesma resposta  de muitos alemães, ao perguntar como foi a Copa em Munique: " Especial, extraordinária, inesquecível"! Descobri que era além do dinheiro, sediar alguns jogos importantes e grandes construções. 

O documentário emociona ao expor os bastidores da Seleção Alemã naquele mundial, a preparação, o trabalho em equipe, o coleguismo, a família, um grande treinador e um time que quase chegou a final de um campeonato. Foi a derrota mais vitoriosa que vi, porque ela devolveu ao povo a palavra "orgulho"! A Alemanha não costumava balançar sua bandeira ao torcer, como o brasileiro faz em qualquer jogo esportivo, por vergonha e medo de que o gesto fosse nacionalista demais, e por consequência lembrasse a 2ª Guerra. No entanto, juntos, policiais, militares, moradores e visitantes tomaram as ruas do país, para recepcionar os jogadores e acenaram um verdadeiro mar de bandeiras e sorrisos, orgulhosos daquele feito, de ultrapassar barreiras e de estar simplesmente juntos e felizes por aquele momento. 



A minha "Arena Tour", numa tarde chuvosa, pelo estádio Allianz Arena


No final das contas, depois desse trabalho, penso que o Brasil executará os projetos e concluirá suas obras de infraestrutura necessários, ainda que com percalços ou prazos estourando. Mas ser sede de uma Copa do Mundo é mais. Assim como aconteceu em Munique, Stuttgart, Berlim, em toda a Alemanha, o mundial é uma bela tentativa de resgatar e renovar a fé que devemos ter em nós mesmos, enquanto cidadãos. Uma boa programação cultural gratuita, paralela aos jogos da Copa, por exemplo, não depende somente de incentivos, mas de boa vontade e planejamento. Uma Copa do Mundo é uma imensa oportunidade de mostrar enorme potencial econômico e turístico de uma cidade. Munique continua a receber chineses e australianos todos os anos, e aos montes!

Por que não mostrar e viver, juntos, a Redenção, os parques públicos, o Bom Fim, a Cidade Baixa, o Centro Histórico, Ipanema, Lami, a nossa Universidade Federal, os nosso bares, museus, galerias, nossos músicos gaúchos, o Theatro São Pedro, ao invés de achar que a Copa será restrita, para poucos, com ponto facultativo em órgãos públicos? Por que não espalhar telões para transmissão de jogos em bairros carentes, região metropolitana, o que significa inclusão e não roubo ou depredação? Por que não oferecer passagens de ônibus e trem mais baratos em dias de jogos, ou ao comprar o ingresso para jogo, ter o direito de ir e vir do estádio utilizando qualquer meio de transporte público? Por que não incentivar o uso da bicicleta, educando ciclistas e motoristas, efetivamente? Colocar jovens voluntários no maior número de pontos da cidade para informar turistas e moradores! Tudo isso seria um sonho para Porto Alegre, para o Brasil? Possível quando se coloca educação em primeiro lugar. E foi exatamente assim, investindo no seus potenciais, no seu bairrismo, na educação de seu povo, que Munique teve sucesso. Precisa-se muito dinheiro para isso?


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