sexta-feira, 13 de junho de 2014

Hrvatska si nevjerojatna!

Croácia, você é incrível!


Plitvice Lakes, parque nacional situado no coração da Croácia, com cascatas e  bosques 

Ao pegar a mochila e sair por aí, sem destino, procurando trilhas sonoras pelo mundo, sei de cor que me surpreenderei nessa garimpagem. No Wanderlust #10, que vai ao ar todas as quintas-feiras, às 20h, pela On The Rocks, peguei carona na estreia da Copa do Mundo, no Brasil, e resolvi explorar a terra dos adversários que virão a enfrentar a seleção canarinho nessa primeira fase do campeonato, começando pela Croácia e com muito gosto por Plitvice Lakes, o parque nacional, patrimônio da Unesco, com mais de 16 cascatas e piscinas naturais interligadas. Ruim, né?

Encostadinho na Hungria, Bósnia e Sérvia, o país é banhado pelo mar Adriático, com penínsulas, baias e muitas ilhas. Além da riqueza natural, o cenário cultural croata também não fica atrás. Zagreb tem muitas bandas independentes, como por exemplo, o quarteto do An The Kid, que utilizam  também instrumentos acústicos:

And The Kid - On My Way Home


Passeando pelo ritmo sonoro croata, descubro uma bela dupla que fará parte do line-up do INmusic, festival de música, que acontece de 23 a 25 de junho, em Zagreb, muito bem quisto por ser um dos poucos que ressuscita  o espírito do Woodstock. Me refiro ao Ti, uma dupla de electro pop, que vem de Belgrado, mas tá sempre nos palcos croatas. O barato do clipe do som Koliko Dana é que ele foi gravado num domingo de primavera, em casa, mas precisamente, na cozinha, de pijama e com o café do lado. Faltou apenas um gato:

Ti - Koliko Dana


Viajei também pelo som do trio  progressivo-psicodélico Them Moose Rush. Da cidade de Bjelovar, ikola Runjavec (guita e vocais), Vedran Komlen (batera) and Branimir Kuruc (baixo) podem satisfazer o seu gosto por um rock mais ácido, com  os temas do último disco The Future Miss Sunshine:

Them Moose Rush - Darling


Gostou desta pequena volta pela Croácia? Curte, mesmo, por o pé na estrada em busca de novas ideias, experiências e paisagens lindas? Então todas as quintas-feiras, às 20h, eu e espero, no #Wanderlust, o programa para os que tem espírito viajante e são do mundo! Clica: http://www.ontherockswebradio.com/

"FOI Tetra, FOI Tetra"!




Era uma tarde nublada, fria. Lembro-me que a escola pública liberou a mim e meus colegas mais cedo para assistirmos o jogo Brasil x Holanda. Ao chegar em casa preparei uma tigela de pipocas, os cobertores e ao lado do meu parceiro oficial de partidas, meu irmão, não desgrudamos o olho da TV. Nunca fui uma aficionada por futebol, mas torcer pela seleção brasileira, quando se tem 11 anos é especial. E ver Bebeto e Romário espremendo a "Laranja Mecânica" seria um desafio sem preço! Não só fizemos suco daquela laranja - em jogo com arbitragem confusa e lances duvidosos - mas uma boa macarronada dos italianos ao chute para fora de Roberto Baggio, na fatídica cobrança de pênalti, naquela final. Acabamos com as pipocas, com as unhas, rogamos pragas, cruzamos os dedos ao gritos de " Vai errar, vai errar"!Imaginava piás, caiçaras, manézinhos da ilha, sertanejos, todos, fazendo a mesma mandinga. Deu certo. Colocamos a taça do tetra campeonato, que estava em solo norte-americano, na mala.


Gravado na minha memória afetiva, o mundial já retratava, naturalmente, um  outro cenário profissional que não aquele dos anos 50 e 60, quando jogadores de futebol recebiam grana na boca do caixa, não ficavam ricos, e tinham outros empregos. Hoje, a multidão de meninos pobres que aos 8 anos, além de desenvolver seu talento, já carrega a responsabilidade de satisfazer sonhos e expectativas de uma família inteira, cresce de forma absurda. Menos de 1% torna-se Neymar, embora a ideia nos seja vendida de forma errônea. A maioria recebe um pouco mais dois salários, paga sua passagem de ônibus para o treino, fica na mão de empresários e de chantagens diárias, quando não necessita comprar os próprios pratos e talheres para poder comer no centro de treinamento do clube, como já aconteceu com o zagueiro da atual Seleção Brasileira, Dante Bonfim. De igual forma, estripulias de entidades imperativas, cartolagem e contra-cheques astronômicos não se justificam. Uma boa dica de filme sobre todas essas realidades é o documentário produzido em parceria Brasil- Alemanha, que chega às telas durante este Mundial, MATA-MATA.

Ontem à noite, rodei o #10 Wanderlust, na On The Rocks, dia abertura de Copa do Mundo, e no Brasil. No programa, mostrei novos sons do nosso país e de seus adversários nessa primeira fase do campeonato: Croácia, México e Camarões. Nossa fusão de etnias e costumes, o apreço por elas, também se transforma, aumenta. A originalidade e beleza da nossa cultura vem sendo aceita e respeitada na sua heterogeneidade e nos é valiosa. Por isso abri o bloco com o som do grupo de Recife, ator principal do movimento Manguebeat, que emergiu nessa mesma época em que eu torcia pela Seleção de Dunga, a Nação Zumbi:

Nação Zumbi - Foi de Amor



O grupo já estava há sete anos sem lançar um novo disco, mas entrou com o pé na porta, tendo na produção o Berna Ceppas, o Kassin e a participação de Marisa Monte, na faixa, A Melhor Hora da Praia. Dengue, Pupillo, Lúcio Maia, Jorge du Peixe, Gustavo da Lua e Gilmar Bolla 8 estão quebrando tudo! Mas não só de antigas, e boas levas, vive a cultura musical brasileira.

Cada vez mais, trabalhando de forma coletiva (leia-se músicos que se unem para se divertir), Graveola e o Lixo Polifônico é daquelas bandas que concatena ideias, inspirações, de forma política, crítica, sublinhando a riqueza das culturas regionais. E eles experimentam, sem medo. Timbres recheados, arranjos bonitos e letras pensantes, inteligentes:

Graveola e o Lixo Polifônico - Blues Via Satélite



Ainda sobre trabalho colaborativo e bandas numerosas (a Graveola tem seis integrantes), uma das minhas gostosas descobertas no último ano está os amigos que se conhecem desde a adolescência, Pitanga em Pé de Amora. O som desses paulistas, que lançaram seu primeiro álbum em 2011, é de uma qualidade tremenda:

Pitanga em Pé de Amora - Ceará


Na boa safra que a terra da garoa vem nos presenteando, está O Terno, um trio irreverente formado pelos figurões Tim Bernardes, Guilherme d'Almeida,e Victor Chaves.  O single Tic-Tac faz parte do EP Tic-Tac Harmonium. Como eles se definem: "Roquenroll":

O Terno - Tic Tac




E apara arrematar o bloco de bons sons brasileiros, no Wanderlust, eu rodei o lançamento que saiu na quarta-feira e que faz parte do novo disco, intitulado Policromo, a canção Geografia Sentimental do grupo 5 à Seco. A composição de Leo Bianchni e Vinicius Calderoni já está disponível para download no portal da Natura Musical.

5 a Seco - Geografia Sentimental




Diante de tanta diversidade, que continuemos sendo verde-amarelo, mas também azul e branco. Que a gente continue se entendo mesmo dizendo pão e cacetinho, macaxeira ou mandioca, vestida de prenda ou pronta com uma sombrinha, para o frevo. Que a gente abuse das palavras "inclusão, distribuição, colaboração", para difundir essa beleza musical tão peculiar, tão nossa. Tropicália, Bossa Nova, Manguebeat, tudo junto e misturado. Mas para chegar até aí, que continuemos a desempoeirar nossos livros e discos, e que saibamos contar e manter viva a nossa história, lembrando não somente quem foi Dom Pedro, mas em quem votamos a cada corrida às urnas, para que possamos, aí, dar um próximo e belo drible.

sábado, 7 de junho de 2014

On the road

Estação férrea de Santa Maria- RS


"Penso que passei por muita coisa na vida e agora penso que encontrei o que é necessário para a felicidade. Uma vida tranquila e isolada no campo, com a possibilidade de ser útil à gente para quem é fácil fazer o bem e que não está acostumada que o façam; depois trabalhar em algo que se espera tenha alguma utilidade, depois descanso, natureza, livros, música, amor pelo próximo - essa é minha ideia de felicidade. E depois, no topo de tudo isso, você como companheira e filhos talvez - o que mais pode o coração de um homem desejar"? 


O trecho de Felicidade Familiar, de Tolstoi, foi uma das últimas leituras de Chris McCandless.O rapaz marcou vários trechos da obra, inclusive este acima, que o emocionaram. Já, a minha emoção, foi chegar ao fim das páginas de  "Na Natureza Selvagem", escrito pelo jornalista e alpinista americano Jon Krakauer. A história de Chris, ou melhor Alex Supertramp, adaptado em filme e dirigido por Sean Pean em 2007,  com a trilha sonora fantástica de Eddie Vedder, divergiu opiniões. Enquanto para muitos o episódio foi símbolo de heroísmo, despreendimento, para os nativos da região - o jovem resolveu desbarvar sozinho a selva alasquiana com pouca comida e equipamentos - algo estúpido, trágico e completamente inconsciente! Ainda que com final inesperado, para o próprio Chris, entrar no Stampede Trail - o longo caminho para o interior do Alasca - o levou, na verdade, para dentro de si mesmo. Por isso, aos que não leram ou viram o filme, essas é uma daquelas oportunidades que lhe traz a certeza de que o importante nunca é o destino de uma viagem, dropar uma onda, chegar ao alto do cume e observar a beleza que a natureza nos emana, e sim, o trajeto que se fez para chegar até tudo isso.

E foi imaginando Chris, rumo ao Alasca, na beira de uma daquelas estradas retas sem fim, no meio do nada, com chuva ou sol a pino, apenas com alguns pertences nas costas é que abri o #9 Wanderlust, na última quinta-feira, On The Rocks, com uma trilha sonora andarilha, para os que pensam em colocar o pé na estrada, de carro, ou erguendo o dedão mesmo. Comecei com um clássico do norte-americano, responsável pelo soundtrack do filme Paris Texas, de Wim Wenders, o compositor e guitarrista Ry Cooder.

Ry Cooder - Paris Texas





Em seguida, lembrei de outro filme sensacional, Diários de Motocicleta, de Walter Salles e por isso, é inevitável não pensar no lindo trabalho do argentino Gustavo Santaolalla, também integrante do grupo Bajofondo e vencedor de dois Oscars por melhor trilha sonora original.

Gustavo Santaolalla - De Ushuaia a la Quiaca





Da Argentina pego a mochila rumo as sonoridades do Oriente Médio. Ao começar com trilhas instrumentais, repletas do espírito andarilho, me deparo com este grupo de Amnan, na Jordânia: Zaman Al Zaatar. O grupo tem três álbuns e uma das coisas que mais me fascina é o aláude, instrumento frequentemente usado na música típica da região:

Zaman Al Zaatar - Um Aldunya





Saindo da Jordânia, voltei para o Brasil, precisamente para Porto Alegre, onde um compositor gaúcho tem o dom mostrar a beleza de diferentes instrumentos em suas músicas. Angelo Primon é daqueles caras que domina com primazia viola de 10 cordas, viola de cocho, cítara:



Ao som de tantas canções em línguas e culturas diferentes, me pergunto ainda se o mundo teria conhecido a história de Alex Supertramp, se o objetivo de chegar ao Alasca e voltar, quem sabe, para casa, tivesse ocorrido. A melodia, o timbre, o acorde de uma trilha instrumental tem o poder de nos levar para lugares num piscar de olhos, num instante de silêncio da alma. Seja para um destino longínquo, ou sem sair da poltrona, viver o trajeto dessa viagem cabe a nossa coragem de saber que ao chegar em algum lugar, já não seremos mais os mesmos.

Perdeu o #Wanderlust na On the Rocks? Então ouça o programa: