sábado, 7 de junho de 2014

On the road

Estação férrea de Santa Maria- RS


"Penso que passei por muita coisa na vida e agora penso que encontrei o que é necessário para a felicidade. Uma vida tranquila e isolada no campo, com a possibilidade de ser útil à gente para quem é fácil fazer o bem e que não está acostumada que o façam; depois trabalhar em algo que se espera tenha alguma utilidade, depois descanso, natureza, livros, música, amor pelo próximo - essa é minha ideia de felicidade. E depois, no topo de tudo isso, você como companheira e filhos talvez - o que mais pode o coração de um homem desejar"? 


O trecho de Felicidade Familiar, de Tolstoi, foi uma das últimas leituras de Chris McCandless.O rapaz marcou vários trechos da obra, inclusive este acima, que o emocionaram. Já, a minha emoção, foi chegar ao fim das páginas de  "Na Natureza Selvagem", escrito pelo jornalista e alpinista americano Jon Krakauer. A história de Chris, ou melhor Alex Supertramp, adaptado em filme e dirigido por Sean Pean em 2007,  com a trilha sonora fantástica de Eddie Vedder, divergiu opiniões. Enquanto para muitos o episódio foi símbolo de heroísmo, despreendimento, para os nativos da região - o jovem resolveu desbarvar sozinho a selva alasquiana com pouca comida e equipamentos - algo estúpido, trágico e completamente inconsciente! Ainda que com final inesperado, para o próprio Chris, entrar no Stampede Trail - o longo caminho para o interior do Alasca - o levou, na verdade, para dentro de si mesmo. Por isso, aos que não leram ou viram o filme, essas é uma daquelas oportunidades que lhe traz a certeza de que o importante nunca é o destino de uma viagem, dropar uma onda, chegar ao alto do cume e observar a beleza que a natureza nos emana, e sim, o trajeto que se fez para chegar até tudo isso.

E foi imaginando Chris, rumo ao Alasca, na beira de uma daquelas estradas retas sem fim, no meio do nada, com chuva ou sol a pino, apenas com alguns pertences nas costas é que abri o #9 Wanderlust, na última quinta-feira, On The Rocks, com uma trilha sonora andarilha, para os que pensam em colocar o pé na estrada, de carro, ou erguendo o dedão mesmo. Comecei com um clássico do norte-americano, responsável pelo soundtrack do filme Paris Texas, de Wim Wenders, o compositor e guitarrista Ry Cooder.

Ry Cooder - Paris Texas





Em seguida, lembrei de outro filme sensacional, Diários de Motocicleta, de Walter Salles e por isso, é inevitável não pensar no lindo trabalho do argentino Gustavo Santaolalla, também integrante do grupo Bajofondo e vencedor de dois Oscars por melhor trilha sonora original.

Gustavo Santaolalla - De Ushuaia a la Quiaca





Da Argentina pego a mochila rumo as sonoridades do Oriente Médio. Ao começar com trilhas instrumentais, repletas do espírito andarilho, me deparo com este grupo de Amnan, na Jordânia: Zaman Al Zaatar. O grupo tem três álbuns e uma das coisas que mais me fascina é o aláude, instrumento frequentemente usado na música típica da região:

Zaman Al Zaatar - Um Aldunya





Saindo da Jordânia, voltei para o Brasil, precisamente para Porto Alegre, onde um compositor gaúcho tem o dom mostrar a beleza de diferentes instrumentos em suas músicas. Angelo Primon é daqueles caras que domina com primazia viola de 10 cordas, viola de cocho, cítara:



Ao som de tantas canções em línguas e culturas diferentes, me pergunto ainda se o mundo teria conhecido a história de Alex Supertramp, se o objetivo de chegar ao Alasca e voltar, quem sabe, para casa, tivesse ocorrido. A melodia, o timbre, o acorde de uma trilha instrumental tem o poder de nos levar para lugares num piscar de olhos, num instante de silêncio da alma. Seja para um destino longínquo, ou sem sair da poltrona, viver o trajeto dessa viagem cabe a nossa coragem de saber que ao chegar em algum lugar, já não seremos mais os mesmos.

Perdeu o #Wanderlust na On the Rocks? Então ouça o programa:



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