sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um mês em Deutschland!



Dez anos depois, cá estou outra vez e quais motivos, além de aprender uma nova língua e cultura? Para muitos, nenhum país consegue ser melhor do que o seu, do que a sua casa. Estar no meio dos seus, pode ser mais fácil. Os lugares, as pessoas, as histórias. No nosso bairro arborizado temos a memória e o passado a nosso favor. Ou não. Enquanto muitos fecham as malas com a saudade transbordando nos olhos, outros nem sequer acenam para trás. Desejam esquecer a vida compartilhada com o abandono, com a miséria. Milhões de pessoas cruzam os céus de continentes com sonhos na bagagem: indianos, brasileiros, turcos, espanhóis, franceses, italianos.

Há exatamente um mês, eu colocava a mochila nas costas e sentia rodopiar o frio na barriga rumo à Munique. Me preparava para enfrentar a nova realidade e começar do zero. Por mais que se conheça outra cultura, as surpresas de uma viagem nunca se bastam. Tudo é novo, de novo. Há dez anos morei neste país trabalhando como babá, porque assim como no Brasil, as dificuldades e consequências de se ter filhos são muito semelhantes às nossas. Não que a mulher alemã seja independente demais para não querer ser mãe. Ela é pressionada a optar. Daí, os baixos índices de crianças por casais. Vagas em jardins de infância públicos são um verdadeiro tesouro, difíceis de encontrar.  E se tiver que pagar, prepare-se para uma média de 600 euros por mês para seu filho ser cuidado 6 horas diárias. Caso contrário, a escolha é morar perto da família, avós, principalmente.

Contratar uma babá alemã, com carteira assinada é muito oneroso. Sendo assim, os programas de intercâmbio são uma boa saída para casais e também para jovens, que corajosas, optam por uma aventura de alta responsabilidade! Ainda hoje, a minha professora de alemão, Andrea, perguntou: “E qual foi a razão de você escolher a Alemanha”? Respondi que além da oportunidade que passou, a minha vontade de topar um desafio quando eu tinha 20 anos deu o empurrão. E foi uma das melhores escolhas da minha vida mesmo sem saber, na época, dizer  qualquer palavra no idioma. Talvez aí, estivesse a motivação. Viver no Brasil não é melhor do que viver na Alemanha. E viver na Alemanha, não é melhor do que viver no Brasil. Mas pode ser apaziguador em alguns aspectos:

*Palavras de gentileza fazem não só a diferença, como são parte do dia-a-dia. Na padaria, no trem, na escada rolante, quando todos sempre se colocam à direita, em fila indiana, para deixar a passagem da esquerda livre para os que estão com pressa:  dizer “Bom dia!”(Guten Tag!),  “Por favor” (Bitte schön), e “Obrigado!” (Danke schön), é, realmente, essencial;

*Bicicleta aqui é meio de transporte! Todos tem uma, desde a senhora aposentada e seu neto, até o empresário, que muitas vezes, vai para o trabalho pedalando. A cidade está repleta de ciclovias por todos os lados  e se não tiver, o ciclista sabe que se ele tocar o sino no guidon, o pedestre ou motorista o deixarão passar, seja na faixa ou na calçada. Os ciclistas são pacientes e tem bicicletas sinalizadas com farol, sino, espelho e a maioria anda sem proteção, porque todos os respeitam;

*Saber que há um sistema eficiente de segurança pública e com isso, poder andar despreocupada na rua, às 22h30, mesmo sem ter uma viva alma nos arredores. O mesmo quando se entra em restaurante lotado, com tempo frio no lado de fora, e você se obriga a tirar o casaco e deixá-lo pendurado na entrada do estabelecimento, em um local apropriado. Ninguém encosta na sua roupa!

*Estar no país referência mundial em cerveja e até agora ter contado apenas duas propagandas na rua, que advertem o cidadão que beber não é uma boa , nem com direção, nem mesmo em demasia com os amigos ou com a namorada. Se beberam, eles voltam de trem, de táxi ou com o amigo que não bebeu;

*Cada ginásio municipal, e pode ser o de uma micro cidade, oferece uma programação de esportes gratuita para crianças e adultos. Ou seja, no turno inverso ao da escola, duas ou três vezes na semana, as crianças a partir de três anos fazem ginástica e brincam acompanhadas de suas mães. Artigos esportivos são baratos, desde tênis, sapatilhas para escaladas. Há piscinas públicas também. A ordem é se mexer!

*A Bavária é um dos estados mais conservadores da Alemanha, mas as pessoas jamais olham ou sequer apontam para punks, gays ou seja lá o credo;

*Além da faculdade, há uma série de possibilidades de estudos diferentes. Os cursos técnicos são muito bem quistos e aceitos no mercado. O advogado, o médico, o açougueiro, o bombeiro, o encanador. Todos são respeitados por suas profissões e desde criança se aprende o valor de cada uma delas. Aqui, todos estão todos juntos nos livros de histórias infantis!

*Ótimos livros custam entre 2,99 e 10 euros. Orquestras Filarmônicas se apresentam de graça e ao ar livre;

*Atualmente, viajar pelo país, nem de trem, nem de avião. Você se cadastra em um site onde procura pessoas que estão indo para o mesmo destino e divide com ela, os gastos do trajeto, sendo você um empresário ou estudante. Ao invés de pagar 120 euros para ir à Berlim, você paga 30 e conhece pessoas novas e de diferentes idades;

*Não há jeitinho para nada: nem para comprar bilhete de trem (nem para entrar nele! Cada um respeita a sua vez de entrar no vagão!), nem para arrumar um emprego, nem se gritar o alarme da porta do supermercado sem querer, nem para pegar um ônibus. Se a água custa 99 centavos e você deu a moeda de 1 euro, a pessoa que estiver no caixa lhe dará um centavo de troco e não em bala de goma;

*É possível usar o banheiro de um grande centro de compras, como um shopping, de graça, mas TODOS preferem deixar uma moeda para a pessoa que fica na porta e mantém o local limpo e organizado;

Ainda que aqui ocorra casos isolados de criminalidade, que na época de Copa do Mundo se tenha construído, sim, mais estradas e estádios de futebol do que jardins de infância, e feito investimentos irrisórios na área da saúde, que é caríssima, que  desvios de dinheiro ocorram em algumas situações, a grande diferença entre os dois países está em uma única palavra, semelhante em ambos idiomas: EDUCAÇÃO, EDUKATION. 

Se trata de bem viver com dignidade, tendo essa palavra como base para qualquer ação.Os poucos aspectos que lembrei de escrever (porque há mais), não dizem respeito ao poderio econômico ou fazem distinção de nomenclatura “desenvolvido e subdesenvolvido”. Me refiro ao que todo ser humano tem e necessita, em sua essência: valores. E isso, pode ser que se aprenda com o passar dos anos, se meu país tiver qualidade de vida, bem estar e a educação do seu cidadão como prioridades. Caso contrário, sentirei sempre saudade do Brasil do futuro, que nunca chega. Enquanto isso, eu ainda continuo a buscar essa tal palavra em algum canto do mundo, por aí...

Nenhum comentário:

Postar um comentário