sexta-feira, 26 de abril de 2013

Minha mãe fala alemão, sim!



Infelizmente no Brasil, ainda há uma boa parcela da população que não sabe ler, nem escrever. Até setembro de 2012, cerca de 12,9 milhões de brasileiros eram analfabetos, segundo o IBGE. Na Região Nordeste, embora a taxa tivesse caído, o número ainda atingia o dobro da média nacional. Imaginei então, quantas mulheres brasileiras vivem ainda esta situação, assim como as razões para que o aprendizado não tivesse ocorrido no tempo certo. Talvez a miséria, a falta de oportunidades. E ao envelhecerem, outras prioridades vieram, seja por necessidade, comodidade e até, desmotivação. 

Em Munique, o projeto Mama Lernt Deutsch (Mamãe aprende Alemão) tem o foco não em alfabetizar mulheres alemãs (até porque o índice de analfabetismo no país é praticamente zero), mas para que mães estrangeiras aprendam o idioma. Por isso hoje, eu tive o prazer de passar a manhã com uma turma muito especial, na escola pública Max-Kohmspergergrundschule.


A iriana Asia se esforça para formular a frase em alemão. Falar curdo e albanês é mais fácil!

Nasrin, Asia, Ghuldaran, Hadeel, Hanifa... Mulheres do Afeganistão, Irã e Iraque, que vieram com seus maridos e filhos para a Alemanha, em busca de melhores condições de vida. A maior parte delas, sim, veio por razões de guerra, conflitos, leis do regime talibã que não permitem, por exemplo, que a mulher trabalhe. A maioria tem entre 27 e 33 anos e tem em média quatro, cinco filhos. Na aula, os exercícios de gramática e texto falam sobre as tarefas do cotidiano, o que a torna bem mais descontraída. Todas vão ao quadro e participam com motivação! E é claro, trocamos receitas! As moças adoram cozinhar!



No intervalo, fui até o Kindergarten (jardim de infância), que fica num prédio ao lado da sala onde estávamos. Visitei a turminha na qual os filhos dessas mulheres estudam (sim, eles tem aula no mesmo período que as mães!). Shukran, a professora também de originem árabe (com a camisa xadrez), aprendeu a falar alemão em nove meses! Já mora no país há 16 anos e ama o que faz! Ela cuida dessas belezinhas comunicativas e sapecas: Maria, Heilin e Mussa. Maria, de origem palestina, Heilin, albanesa e Mussa, também da Palestina. Cantaram, sorriram e fizeram pose para foto:


Ao retornarmos para sala de aula, trocamos mais experiências sobre nossos países. Foi um daqueles momentos que pensei: " Nossa, como eu tenho uma vida MUITO bacana...". Alguns se perguntam como essas mulheres, que estão há tanto tempo por aqui, ainda não conseguiram falar em alemão. Julgar, com que direito? Elas podem ainda não falar o idioma, mas agora isso é questão de tempo! Desejam também uma profissão, uma vida, só delas. São mães zelosas, que se esforçam para aprender não só a ler e a escrever, mas a conviver com uma outra cultura. Uma tarefa nada fácil, quando se muda de país não por opção, mas por obrigação e com o coração preocupado em proteger a família e não deixar morrer seus sonhos.

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